VEM, VAMOS EMBORA
Geraldo Vandré - Personagem
Final de 2005. Quem vier a frequentar aquele restaurante
simples no centro de São Paulo, poderá julgar familiar o rosto de um cidadão de
bigode e cabelos longos e grisalhos, cliente habitual do local. Aquelas feições
remetem a velhas fotos dos anos 60, a documentários sobre a ditadura militar
que comandou o Brasil com mão de ferro até 1985.
Sim, é ele mesmo, que se tornou uma lenda da cultura popular do país. Um ícone da resistência ao governo militar : Geraldo Vandré. O mesmo Vandré que cantou sua “Caminhando”, canção provocativa, no Festival Internacional da Canção (FIC), em outubro de 1968, num Maracanãzinho lotado. Aplausos delirantes à canção, premiada com o segundo lugar no festival. Vaias estrondosas à hoje clássica “Sabiá”, de Jobim e Chico Buarque, a vencedora daquele evento. A platéia queria Vandré em primeiro.
Sim, é ele mesmo, que se tornou uma lenda da cultura popular do país. Um ícone da resistência ao governo militar : Geraldo Vandré. O mesmo Vandré que cantou sua “Caminhando”, canção provocativa, no Festival Internacional da Canção (FIC), em outubro de 1968, num Maracanãzinho lotado. Aplausos delirantes à canção, premiada com o segundo lugar no festival. Vaias estrondosas à hoje clássica “Sabiá”, de Jobim e Chico Buarque, a vencedora daquele evento. A platéia queria Vandré em primeiro.
Quinze dias depois, novo encontro com Vandré, no mesmo
restaurante, quase em frente à Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São
Paulo. Agora de cabelos curtos, e sem bigode, ele se parece mais com aquelas
fotos antigas. Apenas o cabelo embranqueceu, mas ele parece continuar forte e
com ótima saúde. E sua narrativa lembra
momentos tormentosos de sua vida pessoal. E da história do país.
“No dia 13 de
dezembro de 68 (data do anúncio do AI-5), eu estava em Goiânia, fazendo um
show. Teria um show em Brasília, no dia seguinte, quando recebi um telefonema
de um oficial do exército, me dizendo : não tem mais show, está tudo cancelado.
Peguei o meu carro e vim, com meu empresário e com Naná Vasconcelos, que tocava
comigo, direto pra São Paulo. No caminho, o rádio falava de prisões, de
cassações, e eu sabia que viriam atrás de mim”.
Passou dias escondido, e
finalmente se exilou. E passou quase cinco anos fora do Brasil.
“Voltei num avião da Lan Chile, desembarquei no Galeão no
dia 14 de julho, queda da Bastilha. Fui preso imediatamente, e durante dias
tive que prestar depoimentos e depoimentos...” Vandré não fala de tortura, mas sua
narrativa sugere um implícito acordo feito com os militares.
“Me fizeram entrar num avião da Varig e viajar para Brasília.
Lá chegando, me filmaram, como seu eu estivesse chegando ao Brasil naquele dia.
A Globo me entrevistou, me perguntaram do Chile, e lá eu falei que só se dava
bem musicalmente quem fosse do partido.”
A matéria foi ao ar dias depois, exatamente na data em que
ocorria o sangrento golpe de estado no Chile, que depôs o presidente Salvador
Allende. Em pleno “Jornal Nacional”, um Vandré “paz e amor”, enaltecendo as
canções de amor, e criticando o partido chileno, na mesma noite em que se divulgava
a queda de Allende. Perplexidade em todos os espectadores que se habituaram com
aquela imagem do Vandré combativo, autor de versos veementes em defesa da
liberdade.
“O ultimo show que fiz no Brasil foi naquela noite do
AI-5, 13 de dezembro de 1968. Nunca mais fiz, nem farei shows no Brasil”. Por que, Vandré ? “Pelos caras que criaram
esse crime formal chamado república federativa do Brasil”. Mas e os militares,
Vandré ? Não eram eles os seus algozes ? Numa confusa explicação, Vandré
defende os militares, critica a constituinte de 88, critica Lula, e exalta –
como vem fazendo há anos – uma das suas canções inéditas, “Fabiana”, feita em
homenagem a quem ? À FAB – Força Aérea Brasileira....
Aposentado do serviço público federal, Vandré fala de
projetos, de fazer um disco com canções em espanhol, “pra gravar lá fora, e
fazer shows fora do Brasil”. Tem muitas canções no baú, mas não pretende
mostrá-la aos brasileiros.
Meu encontro com aquele cidadão atormentado partiu de um
convite de um amigo querido – e também ícone da música popular brasileira.
Walter Franco me ligara, uma semana antes do primeiro encontro : - Vou almoçar
com o Vandré, e quero que você vá comigo !
Deveria ter gravado aquele almoço. Já no final, ante o
interesse de Walter de fazerem um show juntos, Vandré pergunta, inopinadamente
:
- Walter, você vai para o sul ?
- Como assim, Vandré ? Ir para o sul ?
- Fazer um show no sul ?
Meio sem entender a pergunta, Walter respondeu com um ar
de “sim, posso ir”.
A resposta de Vandré :
- Vá fazer um show em Santana do Livramento, e eu irei a
Passo de Los Libres. Faremos um show na fronteira : você no lado brasileiro, eu
no lado argentino. Porque no Brasil eu não canto nunca mais.
Como em várias outras coisas ditas naqueles dois almoços, ficou
aquele ar de “ele está falando sério ou está zoando da gente” ?
Que história fantástica, Juca!
ResponderExcluirO próprio encontro com o genial Walter, prá mim, já teria sido o máximo. Agora, esta conversa com o Vandré é o máximo!
Muito bom!
Um abraço!
Que história fantástica, Juca!
ResponderExcluirO próprio encontro com o genial Walter, prá mim, já teria sido o máximo. Agora, esta conversa com o Vandré é o máximo!
Muito bom!
Um abraço!
Que relato incrível!
ResponderExcluirÉ muito bom ler seus textos, Juca!
Parabéns !
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir