sábado, 23 de abril de 2011

MEIO ALMODOVAR - canção


Dois anos sem escrever no blog, que vergonha ! Como justificativa, posso dizer que nesse período muitas coisas mudaram na minha vida pessoal e profissional. Do pessoal, quem me é próximo sabe. Do profissional, basta dizer que lancei dois discos nesse período, “Aldeia” (2009) e o recém- lançado “Goa”, que vai virar DVD/CD ao vivo, gravado no SESC da Vila Mariana, em São Paulo, no dia 12 de abril de 2011. Isso sem contar o “Amor até o fim”, dos Trovadores Urbanos (2010), disco complexo e extenso, trabalho suficiente, portanto, pra justificar falta de tempo.

Está na lista de minhas resoluções pra 2011, rs... : prometo ser mais assíduo, pessoal !

De qualquer maneira, estou aqui, de volta ao “De cabeceira”. Teria várias coisas pra comentar, pra destacar, assuntos pra virarem tópicos do blog. A seu tempo, eles serão postados. Mas preferi reinaugurar o espaço falando de uma canção que faz parte do meu disco “Goa”. Sei que elogio em boca própria é vitupério, mas, como verão, não se trata disso, eis que aqui estarei apenas como narrador objetivo de fatos. Ademais, não apenas por ser uma música importante da minha discografia, mas também porque, além do curioso processo de sua criação, que narrarei adiante, ela me apresentou uma série de bônus e ônus em feed backs na Internet, que bem ilustram as possibilidades e loucuras que permeiam o espaço internético nesses nossos tempos.

A história é a seguinte : Fiz o começo dessa letra há um ano e meio, dois anos, mais ou menos. Já estava gravando o disco, e pensei : “essa é pro Lenine”. Amigos há muito tempo, já tínhamos falado em uma parceria, nunca concretizada. Entreguei-lhe, então, um início de letra, que era o seguinte: “Foi só um ensaio / foi só um insight / durou muito pouco / doeu muito mais / foi trailer de filme / ensaio de orquestra / foi jogo suspenso / no auge da festa / foi curto e intenso / canção de Caymmi / foi meio Almodóvar / foi meio Fellini / foi como um cometa / no céu da cidade / foi breve promessa de felicidade”.

Ele gostou, e ficamos de combinar o próximo capítulo. Nesse interregno, continuei gravando o disco, e as músicas foram ficando prontas, a coisa avançando...e nossas agendas não combinavam. Fui pro Rio, ele veio pra São Paulo, mas sempre na correria, sempre sem tempo, e o tempo passando...

Aí chegou um momento em que olhei o calendário e falei pra mim mesmo : “ou eu mudo tudo ou não vai rolar essa música”. E, realmente, estávamos no início de setembro (de 2010), o disco já tinha pré-lançamento programado para o final de novembro, e todas as outras faixas estavam praticamente prontas. Eu tinha umas três semanas, no máximo, pra que a música fosse concluída, para que eu a gravasse, mixasse e masterizasse com as demais canções do disco, pra que desse tempo do produto ser finalizado até a data agendada.

Diante dessa impossibilidade temporal, liguei pro Lenine e combinei o seguinte : “me devolva a letra, que eu termino a canção, e aí cantamos juntos na gravação”.

Ele topou, e aí eu tive que pegar aquela letra dolorida, reviver de novo as razões pelas quais escrevera aquilo, e avançar mais ainda num masoquismo saudável (porque artístico) mas ainda assim incômodo e auto-flagelante. Me debrucei sobre aquela história durante alguns dias, e a música saiu, com começo, meio e fim. Com aquela letra original, agora musicada por mim, com introdução vocal e tudo, e mais um refrão, com os seguintes versos : “eu morro de saudades do que era pra viver/ e vivo da viagem de reencontrar você/ meus olhos do passado num futuro que nem sei/ de tantas outras vidas/ mil pontos de partida/ e todos os detalhes do que não aconteceu/ repetem o roteiro pra mostrar você e eu/ o filme recomeça e nunca chega até o fim / e nessa nova vida / não tem a despedida”.

Demorou uma semana, digamos, pra que eu a concluísse. Mostrei ao Fontanetti, produtor do disco, que criou a levada do violão, chamou o grande baixista Silvinho Mazzucca, e o também excelente baterista Sérgio Reze. Em mais uma semana, a base de violão, guitarra e baixo estava pronta. Quando chegou esse momento, eu já fizera mais uma parte da letra, para ser cantada na repetição da melodia da primeira parte: “foi só a voz guia/ foi nem a metade / foi estrela guia / foi tanta verdade / um mero rascunho / mas foi divindade / grafite no muro da minha saudade”.

Estava pronta a canção.

Gravei os vocais, cantei a música em dois canais. E aí Fontanetti enviou aquelas gravações instrumentais/vocais por email para o Tolstoi Junior, guitarrista do Lenine, que recebeu os arquivos, e, equilibrando a agenda do seu estúdio com a já louca agenda do galego, conseguiu um espaço pra gravação daquela participação especial.

Liguei pra ele : “Lenine, quer que eu também te mande a gravação pra você ir ouvindo a música ?” A resposta : “Não quero ouvir nada antes. Quero chegar no estúdio sem conhecer nada, pra gravar com a emoção da primeira audição”.

Senhoras e senhores, deu certo, mas foi aos 45 do segundo tempo. Quase na prorrogação. Recebemos a gravação das vozes de Lenine na madrugada de sexta-feira, dia 8 de outubro. Ele a gravara algumas horas antes. Na tarde daquela mesma sexta-feira, eu iria pra Avaré, dirigir o festival, que seria finalizado no domingo, dia 10, com show de Caetano Veloso. No dia 11, segunda-feira, eu deveria estar novamente em São Paulo, para a masterização do disco, às dez da manhã.

Foi a toque de caixa, portanto, que Fontanetti e eu editamos as vozes, de Lenine e a minha. Ambos tínhamos gravado a música inteira, em dois canais. Quem canta primeiro ? Quem canta depois ? Quem faz a primeira voz ? Quem faz a segunda ? Definimos o mapa da coisa, e aí eu saí de viagem, deixando ao produtor a finalização do trabalho, com a gravação do piano do José Godoy, e a mixagem da canção.

(digno de registro que me emocionou a sensibilidade e generosidade do meu companheiro de gravação, que arrasou em sua participação).

Tudo deu certo, afinal. A música recém-composta, a gravação de afogadilho, pela Internet, a finalização na tal undécima hora...

Masterizamos no prazo, o disco ficou pronto.

(Pra quem ainda não conhece e quiser ouvir o resultado final, eis um link do youtube : http://www.youtube.com/watch?v=BtnaK4JKkQ8)

Lançado o "Goa", “Meio Almodóvar” logo começou a ser executada em algumas rádios, e teve início um impressionante retorno na Internet, de pessoas tocadas pela canção. Em redes sociais, em blogs, no You tube... Na verdade, tudo é muito recente. A caminhada está no comecinho (afinal, a música foi criada há pouco mais de seis meses...), mas a largada, saibam, foi muito promissora.

E aí veio uma espécie de efeito colateral da coisa. Fui gravar um programa de TV, e a produtora perguntou à minha assessora de imprensa : “só confirmando a autoria da música : Nado Siqueira e Juca Novaes, é isso ?”

“NADO SIQUEIRA ? Como assim ? Quem é Nado Siqueira ?”

Pois é, gente. Quem é Nado Siqueira ? Procurem por “Meio Almodóvar” no Google. Em vários sites constará a autoria como “Nado Siqueira/ Juca Novaes”.

Vejam só. Pra chegar ao “Meio Almodóvar”, eu, no mínimo, assisti a todos os filmes do Almodóvar e do Fellini, ouvi canções de Caymmi e de tantos outros, gravei quinze discos, e portanto gravei muitas vozes guias, vi cometas no céu da cidade, criei mais de 200 canções, li e ralei pra caramba, aprendi a canalizar minhas paixões pra musica, tive uma experiência pessoal riquíssima que inspirou essa canção, e o Nado Siqueira, que nem sei quem é, chega sem passar por nada disso e, assim, subitamente, sem aviso prévio, vira uma espécie de sócio ?

Que a Internet é terra de ninguém, eu já sabia. Que os dados que surgem nos websites e páginas do gênero precisam ser checados, também sabia. Que é preciso separar o joio do trigo nessa imensa quantidade de dados e informações, também sabia. A única coisa da qual não sabia fica na pergunta que deixo aqui, pra encerrar esse meu alegro ma non troppo :

Gente, afinal, quem é Nado Siqueira ????

26 comentários:

  1. Juca, saudações alvinegras neste dia de São Jorge.
    Quem é Nado Siqueira, mano? rs
    Aparentemente é um jovem compositor de Recife, autor daquela baladinha "Românticos", gravada pelo Vander Lee, talvez pela Daniela Mercury (Românticos são poucos... blá blá blá), e, tá sentado?, parceiro do TAVITO em "Pensando em Você". Será?
    Ou estamos diante de um grandecíssimo filho de rapariga?
    Fica a dúvida. Cheguei até a enviar e-mails pros blogs que dão a informação errada.
    O problema é que no Terra Letras tá errado, daí nem adianta se cansar muito. Mas comuniquei lá também o erro.
    Beijo e até!
    Parabéns pelo retorno ao blog.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Essa é da série "Era só o que faltava". Até o próprio Lenine frisa que a música é totalmente sua, aí vem este ser humano querer a autoria pra ele.

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  4. Que coisa boa, ler seu blog, e poder ter visto tudo isto acontecer de pertinho, a canção terminando e no palcão meio Novaes, meio Lenine, é são de canções assim que minha vida se move, e não só a minha a de tanta gente que hoje ouve esta canção pela rádio, youtube, e em breve as outras desse seu cd GOA que amo de paixão.

    Juca continua o Blog!!!
    beijo...Adorei!

    Ps: Baita honra ... você sabe, lá no ínicio!

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  5. olá amigo, quanta alegria saber que vc existe, te sigo a mais de ano, e nunca vi um post seu, mas a pascoa é milagre, viu, seja bem vindo... terê.

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  6. A parceria que deveria ter existido foi "plasmada" e se materializou num equívoco de autoria que, sem dúvida deve ser desfeito.A verdade, amigo, é que vc se virou em dois!E tem mais aí dentro! Eu vou é ficar esperando mais poesia dessa qualidade produzidas pelas várias faces do Juca Novaes!Abração!

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  7. Parabéns, Juca!

    Conheci seu trabalho através dessa música, que é genial, sensacional, impressionante e todos os outros adjetivos que possa se encontrar. (Na época retratou mtuito bem meu momento - infelizmente... rs)

    Após conhece-lá, fui na gravação do dvd - que foi ótima - momento onde ganhou um grande admirador.

    Me surpreendi muito com seu show e todas suas músicas.

    Parabéms, parabéns e parabéns!!!

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  8. Juca ..Realmente,para escrever Meio Almodovar tem que ter vivido a letra ... Quem escuta e senta a música sabe .. No meu bomn entendimento esse Nado Siqueira quer apenas se promover por não ter sua própria canção ...Lamentável .
    Mas muito obrigada por compor essa canção tão linda e verdadeira que com certeza faz parte de algum momento da vida de cada um de nós !!!
    Um grande abraço !!!

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  9. Pensa bem Juca: Nado masculino de Nada,
    até o cara sabe quem êle é...

    beijo

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  10. Nado Siqueira nada! Na do Juca Novaes.heheeee coisas da internet. Mas nada de surpreender pois aqui no Brasil está cheio de gente que quer se apossar de coisas que tem dono. Fica frio meu querido amigo. Quem sabe seu parceiro virtual ainda te dê muitas alegrias e volte a compor agora com o Chico, com o Edu Lobo, Gil e tantos outros parceiros de boa cepa. Beijo no coração. Ivanhoé Eggler Ferreira.

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  11. Olá! Te encontrei e achei seu blog uma delícia! que bom que voltou a escrever no seu blog...assim posso me divertir de montão!
    Estou te seguindo...posso?
    Abraços
    Lhú Weiss

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  12. Abração meu saudoso amigo Ivanhoé.
    Obrigado Aishwarya, Rodrigo, Rita, Terê, Juliana, pelas palavras estimulantes.
    Obrigado, Monika, por tudo e pela autoria da feliz foto dessa página.
    E Lucas, essas parcerias que você menciona são fantasmas. Eu não sou a única vítima não, sou apenas a mais recente, rs...

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  13. Lhú, não apenas pode, como deve !
    abraços

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  14. Nado Siqueira? não. Conheço nado borboleta,nado craw, nado peito. Nada nadinha além disso. Cara se essa música tivesse que ter alguma parceria com meu amigo Juca Novaes, seria comigo; porque é uma puta de uma canção que eu gostaria de ter feito (ouvi o disco morrendo de inveja) e pelo papo místico que eu e ele tivemos na casa de nosso amigo Raul Correa. Eu tinha acabado de terminar um relacionamento com uma gaúcha linda de morrer. Eu achava que tinha namorado só o primeiro tempo...sei lá...por ai. Eu e o Juca, amigos de velhas datas começamos um papo que até Freud pediria explicações...bom...o resto o Juca conta. ô Nado, nadinha de nada. Cai fora. Essa canção é do meu amigo Juca Novaes. O resto é o silêncio.

    abçs Juca

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  15. Pois é, Bessa, tínhamos vivido experiências semelhantes, cada qual no seu terreiro, e eu estava fazendo essa música quando nos encontramos. Tínhamos o mesmo tema pra criar, só que eu estava com alguns neurônios, sentimentos e noites maldormidas de antecedência, rs... Foi uma coincidência muito interessante e o papo fluiu bem como sempre, até porque, pra quem não sabe, meu amigo Bessa é poeta de primeiríssima, seu livro "outros barulhos" está na minha cabeceira, e o blog "Algarrobas" é imperdível. Abração

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  16. Este comentário foi removido pelo autor.

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  17. Olá Dr.Juca Novaes. Eu sou Nado Siqueira NÃO sou autor da canção citada(Gostaria muito,mas não sou).Explicando o equivoco Futuramente vou trabalhar na mesma área que o senhor se Deus permitir pretendo exercer direito e não seria tão criança de inserir uma informação errônea dessas ouvi sua canção aprendi sua no violão e toquei muito sua canção em casa para familiares amigos sou super fã do Lenine também sou da cidade do Lenine.Li os comentários "acabando" comigo poxa tentando começar uma carreira de letrista de música e ser taxado disso tudo inclusive ofensas de baixo nível? DESCULPE-ME se meu nome o incomodou tanto, mas o senhor pode ter a certeza não postei nada que não seja meu desde já agradeço a sua atenção.

    EXEPLIFICANDO certa vez li a informação autoral da música A Cara do Brasil (Jô Soares/Vicente Barreto) JÔ SOARES Colocou na internet?Penso que não!Não querendo me comparar ao JÔ Soares quem sou eu, mas as pessoas dos comentários devem ter cuidado no que falam não sou o COITINHO DOS SANTOS que aí sim é um verdadeiro marginal. Não queria teclar com o senhor nesta situação,mas saiba que vou continuar tocando,cantando no chuveiro, na sala no quarto a música MEIO ALMODÓVAR, pois precisamos dela já que a carência por músicas de qualidade está aí dando a cara para bater. Obrigado!

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  18. Oi Nado Siqueira, que bom que vc apareceu e pode responder ao que todos escreveram a seu respeito. Quer dizer, não propriamente a SEU respeito, pois na verdade ninguém te conhecia ate agora, e sim o seu nome, inserido misteriosamente como autor da minha canção, dentre outras. Como vc afirma não ser o responsável pela autoria indevida, acho q poderia entrar em contato com os sites possíveis, solicitando a correção. Com isso, teria o respeito de todos os que escreveram a seu respeito, com certeza. Desejo sucesso ao seu trabalho autoral genuíno, e agradeço seu apreço pelo "Meio Almodovar". Att., Juca Novaes (sem o Dr., please)

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  19. Salve, Juca!

    Passei só pra dar os parabéns pelo ótimo disco. Tô ouvindo direto aqui. Só lamento informar que minha preferida (já há alguns anos, desde que a ouvi num desses festivais da vida) é "Samba das Índias", aliás, não apenas minha preferida do disco, mas uma das mais bonitas canções que ouvi nos últimos anos. Coincidentemente, posto esse comentário justo hoje, data de aniversário de Fernando Pessoa! E viva o Deus das coincidências!

    Por último, tenho que acrescentar que meu lado invejoso ficou se roendo ao saber que você é parceiro do Zé Edu e não meu... Ai, minhas unhas!!!

    Abração e sucesso,
    Léo.

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  20. opa Léo, é só fazer como o Zé Edu fez : separa uma letrinha legal aí e me manda. Quem sabe no próximo não entra uma nossa ?
    abraço

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  21. Opa! Com o maior prazer! Aguarde aí!

    Abração do
    Léo.

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  22. Este comentário foi removido pelo autor.

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  23. Adorei tudo !!!! E realmente o que importa JUCA NOVAES, não é o Nado Siqueira...O que realmente importa é essa sensibilidade que conquistou tantas almas, como a minha, e que agradeço á um tal Leão do Norte, do qual sou muito fã, de ter conhecido esse trabalho maravilhoso assinado por você "O JUCA NOVAES".Parabéns pelas composições, principalmente pela minha preferida "Meio Almodóvar" !!!! Bjs

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  24. Foi com grande deleite poder desfrutar na rádio hoje essa música, hoje faz parte de uma história vivida por mim, agora lendo o seu blog, me apaixonei por completo por ela...Parabéns por descrever vidas em suas letras.

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